sexta-feira, 25 de julho de 2014

A F-1 FORA DA GLOBO?


A F-1 está com os dias contados na Globo...?

            No último final de semana, muitos amantes da velocidade não gostaram de saber quando foi anunciado que a transmissão do treino de classificação para o Grande Prêmio da Alemanha de F-1 teria apenas o Q3 transmitido em TV aberta, pela Globo. As duas primeiras partes, o Q1 e o Q2, só para quem tem TV a cabo, no caso, os canais do SporTV. O motivo, como de costume, é audiência, e a transmissão da F-1 estava perdendo, pasmem, para outros programas, como desenhos animados. Logo, o espaço "sacrificado" do automobilismo ficou para a transmissão da TV Globinho, com as sobras da programação infantil que um dia a emissora do Jardim Botânico já teve mais consideração, hoje restritas às sobras de horário dos sábados.
            Foi o suficiente para um debate sobre o fim da F-1 na Globo. Que a audiência das corridas já não é mais a mesma, isso nunca foi novidade. Desde a morte de Ayrton Senna, em 1994, a F-1 perdeu seu apelo "popular" para a grande massa de telespectadores, que só acompanhavam as corridas mesmo porque havia um brasileiro vencendo as provas. Quem ficou é porque gostava de corrida, e torcia por nossos pilotos, mesmo que eles nunca conseguissem um pódio, além claro daqueles que não tinham nenhuma vergonha em admitir que torciam para pilotos estrangeiros, nada que parecesse um bicho de sete cabeças, exceto para alguns idiotas que afirmavam, na cara dura, que torcer para piloto "gringo" era dar as costas a nossos representantes. Ignorância pura.
            É exagero afirmar que a F-1 vai sair da Globo. A emissora não iria correr o risco de deixar a competição, por menor que fosse a chance, de ir parar em um canal concorrente, e que de repente, deixasse um grande rombo em sua audiência na competição do IBOPE. No início dos anos 1980, isso aconteceu, e a F-1 passou a ser exibida pela Bandeirantes. Durou apenas uma temporada, e logo em seguida a Globo recuperou os direitos e nunca mais os largou. Seria louca de cometer o mesmo erro hoje. O que pode acontecer é deixarmos de ver as provas na TV aberta, no caso, do canal da Globo, e as provas passarem a ser transmitidas apenas pelo SporTV. Mesmo assim, ainda é uma decisão que a Globo irá considerar bastante. Mesmo com a audiência claudicante, a emissora não tem opções muito mais atrativas para colocar no tradicional horário das manhãs de domingo, onde a maioria das corridas é exibida em nosso país. Claro que isso pode mudar, mas vai depender mais da concorrência do que da Globo em si. Enquanto os rivais não conseguirem ameaçar efetivamente a audiência aos domingos pela manhã, podemos contar com as transmissões das corridas da categoria. E, em termos financeiros, mesmo que os valores das cotas de transmissão venham a cair, a emissora ainda tem uma margem de lucro folgada para flexibilizar seus custos. Verdade também que, possuindo a maior audiência do mundo em um único mercado, é um número e trunfo importante na hora de tentar renegociar valores com Bernie Ecclestone, chefão da FOM, que sabe que não pode desprezar tais números. Perder TVs que transmitem a F-1 é um luxo que o cartola sabe ser um risco potencial para a manutenção do esquema de lucros da entidade que controla os acordos comerciais da categoria.
            Parte das discussões se focava na qualidade das transmissões da categoria, algo que a Globo nunca deu muita atenção, preferindo há tempos investir apenas no "básico", começando na transmissão do evento logo ao seu início, e descartando-lo imediatamente logo após o seu término. E nada mais. Uma atitude que a Globo faz com praticamente todos os eventos esportivos que transmite, não apenas com a F-1. Recentemente, a emissora fez algo inédito: começou a transmitir cerca de 20 minutos antes do habitual, para mostrar um passeio de seus repórteres pelo grid entrevistando pilotos e quaisquer notáveis que por ali estivessem. Para tanto, chamou Rubens Barrichello, ex-piloto da categoria, para "turbinar" o passeio, uma vez que o brasileiro, recordista de participações na categoria, sempre foi bem visto por todos, e teria condições de puxar um papo rápido com quase todo mundo que por ali estivesse. Uma idéia interessante, mas mal aproveitada até hoje.
            Se rolou alguns encontros interessantes com o pessoal ali presente, por outro lado, Barrichello poderia ter se preparado melhor para a função, fazendo por vezes perguntas mais pertinentes aos acontecimentos do momento, pois a maior parte delas são perguntas-padrão que qualquer pessoa menos gabaritada poderia fazer. Ao mesmo tempo, a emissora poderia preparar matérias especiais para serem exibidas neste espaço, a fim de informar melhor o telespectador. Mas parece pedir demais para a emissora.
Barrichello: trunfo mal explorado pela Globo.
            Na equipe de narração, muita gente prefere mais o Sérgio Maurício do que o locutor-mor da empresa, Galvão Bueno. No período da Copa, quando Sérgio narrou as provas da Áustria e da Inglaterra, muitos consideraram a transmissão bem melhor equilibrada, e até mesmo Rubens Barrichello e Luciano Burti parecem ter ficado mais à vontade em seus papéis de comentaristas. Não é de hoje que muita gente acha que Galvão polariza demais a transmissão em volta de si, deixando pouco espaço para os demais colegas de trabalho. Para muitos, combinar a narração de Sérgio Maurício com os comentários de Reginaldo Leme e Lito Cavalcante seria a melhor pedida na cabine de transmissão. Já com relação às reportagens nos boxes durante as corridas, tanto Mariana Becker quanto Carlos Gil já demonstraram boa desenvoltura para a função. A questão é: a Globo promoveria uma mudança dessas na cabine? Com Galvão já anunciando sua possível aposentadoria para breve, essa era uma possibilidade que realmente poderia ser aventada pela emissora. Ocorre que Galvão, há pouco, resolveu postergar um pouco mais sua aposentadoria, divulgando que até a próxima Copa do Mundo, em 2018, podemos "contar" com ele firme nas narrações da emissora, o que descarta a probabilidade de mudanças substanciais no modus operandi de transmissão das provas. Então, "guenta" mais Galvão por pelo menos 4 anos...
            Na hipótese de as transmissões irem mesmo para o SporTV, nada garante que a qualidade da transmissão vire uma maravilha. No caso das provas de automobilismo, o esquema no SporTV é o mesmo que se vê na Globo: a transmissão começa quase imediatamente antes da largada, e após a bandeirada de chegada, temos o pódio, e puff... fim da transmissão. Nada além disso. Aliás, o espaço dedicado no SporTV ao automobilismo não vai muito além da exibição das corridas. Não há programas dedicados ao automobilismo em si, destinados exclusivamente a cobrir o mundo da velocidade, e explorar a história do esporte a motor. A única exceção é o Linha de Chegada, programa de entrevistas que é capitaneado por Reginaldo Leme, que embora seja uma boa opção, já teve um formato diferente algum tempo atrás, quando era praticamente uma "mesa" redonda destinada a discutir os acontecimentos das corridas da semana que passara. Reginaldo comandava a discussão, sempre com a presença firme de Lito Cavalcante, e alguns jornalistas e/ou pilotos convidados, em um papo descontraído e instrutivo, onde se trocavam idéias e pontos de vista sobre os acontecimentos recentes. Nada contra as entrevistas que Reginaldo faz atualmente no programa, mas poderiam muito bem ter mantido o velho formato ao lado do novo, em edições distintas. No mais, ainda há o Linha de Chegada - Na Pista, exibido às sextas, com um apanhado da semana, até com alguns quadros legais, mas que poderiam ser melhor explorados, se o programa tivesse maior duração - pouco mais de 30 minutos, em média, e um horário fixo na grade - é preciso ficar "caçando" o programa nos 3 canais SporTV para ver onde ele irá passar, e a que horas, podendo ser exibido tanto às 23 horas de sexta quanto ir parar no meio da madrugada de sábado, o que é um tormento para quem não tem como passar a noite esperando.
Reginaldo Leme no antigo Linha de Chegada: jornalistas e pilotos convidados discutiam sobre o mundo do automobilismo.
            Com 3 canais esportivos, a Globo poderia muito bem ter melhores opções para fidelizar o fã de automobilismo, aquele telespectador que vai assistir fielmente as corridas, seja quem for o vencedor, seja lá que fim tiver o piloto brasileiro na prova. O mundo da velocidade é tremendamente rico, cheio de histórias, personagens, lugares, etc. Um universo que poderia ser muito bem explorado e exibido, se a Globo decidisse fazer mesmo um investimento sério de trasmissão das corridas. Mas nem a Stock Car ganha um tratamento diferenciado nos canais SporTV, que dirá então de transmissão de um campeonato internacional. E o problema não é restrito apenas à Globo. Quem acompanha a MotoGP há anos só tem mesmo a opção da TV por assinatura, e mesmo assim, o que é mostrado, além da transmissão das provas, é mínimo, quase inexistente. E, mesmo em eventos especiais, como as 24 Horas de Le Mans, mesmo sabendo que é inviável transmitir a prova na íntegra, nenhum material especial sobre a corrida, um programa dedicado para despertar o interesse dos fãs em potencial, nada disso é feito, e quando ainda surge algo, não é explorado como deveria. E isso não se resume apenas à F-1 na Globo/SporTV. O tratamento que a Indy Racing League recebe da Bandeirantes/Bandsports também é lamentável, praticamente quase nada sendo mostrado além das corridas.
            Lembro-me de quando a TV Manchete transmitia a finada Fórmula Indy em 1993 e 1994: nos sábados dos domingos de corridas, antes do telejornal, havia um programa de meia hora, o "A Caminho da Indy", onde era mostrada a reportagem da classificação, e curiosidades do local onde acontecia a etapa. Durante o mês, em pelo menos uma oportunidade, havia uma edição especial do programa, com 1 hora de duração ou mais um pouco, onde era apresentado um pequeno resumo do campeonato disputado até aquele momento, e o resto eram matérias sobre o universo da categoria: história, reportagens técnicas, fofocas de bastidores, tudo. A equipe, formada basicamente pelo locutor Téo José, mais o comentarista Dedê Gomes, e o repórter Luiz Carlos Azenha, era pequena, mas conseguia trazer um material muito interessante, ainda mais por se tratar de um canal aberto. Que categoria no Brasil hoje em dia tem tal tratamento e exibição dedicada?
            A própria Globo também tem culpa por sua atitude de monopolizar a audiência, de modo que índices baixos, ainda que bons, são considerados "fracassos" pela emissora, haja visto o tititi quando suas novelas ficam "apenas" nos 30% de audiência aferida pelo Ibope, sendo considerada um fiasco. Exigências excessivas fazem a emissora "queimar" muita coisa do que exibe, onde a ordem é audiência quase na base do tudo ou nada. Já perdi a conta de quantos programas a Globo cancelou apenas por que eles não atingiam suas metas de audiência, mesmo que estivessem em segundo lugar no número de TVs ligadas no momento. Outro problema é a postura da emissora de tratar tudo o que não lhe pertence como "acessório" em sua programação, enquanto produtos "da casa" são mostrados quase à exaustão... Basta ver o estardalhaço que eles fazem quando estréiam uma nova novela: tem chamadas a rodo nos intervalos, matérias no Fantástico, Videoshow, Mais Você, Fátima Bernardes, etc...
            Decadência dos índices de audiência da F-1 não é algo exclusivamente nacional: até mesmo na Inglaterra, berço e capital mundial do automobilismo, os índices estão caindo, e falo isso de um país onde as transmissões começam muito antes da largada e se estendem muito tempo depois, com direito a análises técnicas, esportivas, reportagens especiais, e tudo o que um fã de corridas pode desejar, e com boa qualidade de transmissão. E se onde há transmissões em que o fã e telespectador é respeitado já acontece isso, o que dizer do que acontece no Brasil, com o famoso "padrão Globo de qualidade"?
            Antigamente, tudo o que tínhamos era a transmissão das corridas nos domingos. Quando muito, o programa "Sinal Verde", aos sábados, de poucos minutos na maior parte das vezes, falando exclusivamente da F-1, sob comando de Reginaldo Leme. Dava para o gasto na época. Hoje, com a internet, e a profusão de canais esportivos, já não basta. Não sei o que irá acontecer exatamente nas transmissões de F-1 no futuro próximo no Brasil, onde se fala até que nosso país poderia ficar totalmente sem transmissão da categoria, algo que considero exagerado e radical. Só sei que, no atual andar da carruagem, o futuro não será dos melhores. Resta sabermos o quanto poderá piorar. Melhorar parece querer esperar por um milagre...


A Globo iniciou a transmissão dos treinos de classificação das corridas da F-1 na temporada de 1991. Inicialmente, a idéia era apresentar flashes dos treinos durante a programação, ou até mesmo um compacto logo após, em algum momento da programação de sábado. Mas os fãs ficaram mesmo felizes quando a emissora passou a exibir logo de cara, na primeira corrida daquele ano, o treino de classificação de sábado na íntegra, e ao vivo. Na época, havia também um treino de classificação às sextas, com os pilotos tendo suas posições de largada determinadas pelo melhor tempo de ambas as sessões, sexta e sábado. Os treinos de sexta nunca eram exibidos, com exceção do GP do Brasil, onde a Globo também mostrava a sessão. De lá para cá, os treinos de classificação passaram por várias mudanças, até chegar ao formato adotado hoje, sempre com transmissão da Globo, ao vivo, com raríssimas exceções. Na primeira transmissão apenas do Q3, quem não tinha SporTV deu sorte: a batida de Lewis Hamilton provocou bandeira vermelha, atrasando todo o restante do treino, o que deu chance do pessoal ver também o Q2. E neste sábado, treino na íntegra novamente só no canal por assinatura com a classificação para a prova da Hungria...

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